terça-feira, janeiro 25

Inconscientemente.

Inconscientemente, parecia querer buscar em autores, filmes e músicas, algum tipo de consolo. Como se alguém precisasse chegar bem perto do sofá, onde estava, colocar uma das mãos em seu ombro e dizer que aquilo era normal. Que acontecia também com outras pessoas. E que iria passar.


"E eu senti uma profunda raiva acompanhada de saudade e lágrimas. Houve motivos para as minhas emoções. Profundas razões que deixaram marcas, um tanto doloridas, permanentemente desagradáveis. E eu senti raiva. Muita raiva. Foi o meu dia de raiva. Quem é que nunca teve um dia assim? Eu tenho esse direito, você também, todos tem. Dormi e chorei. Acordei e chorei. Passei o dia e lembrei de um passado tranquilo que está me fazendo falta. De uma felicidade que eu não soube reconhecer. De um tempo que eu era uma pequena dona de casa, cheia de filhinhas e fazia comida pra todas elas. Era tudo de mentirinha. Mas era a minha realidade. Tão feliz, tão tranquila, assim eu era junto as minhas bonecas. E hoje elas me fizeram tamanha falta. E acabei conversando com o guarda roupa, com as paredes, com o espelho e com a banalidade presente na TV no dia de domingo. Não sei se eles me entenderam, não sei se absorveram minhas informações, mas só sei que foi neles que encontrei confiança e força para arremessar minha raiva. Botar tudo pra fora. São tantas indignações, tantas esperas, tanta coisa em vão. E daí eu falei, falei, mais uma vez falei sem parar. Desabafei. Vi no espelho um rosto vermelho, um olhar que não era de tristeza, lágrimas que não era de alegria. De repente eu sorri. Sorri e chorei novamente. Parei de chorar e voltei a sorrir. Falei pra aquela linda moça que eu via no espelho: Ei, eu amo você, eu te admiro. Levante-se, a sua raiva já se foi. Você nunca desistiu, por que motivos iria largar tudo agora no momento de arrancada? Não, não desista. Vá em frente. Você pode. Você consegue... Dei uma grande gargalhada de mim mesma, como posso ser tão boba assim, achar que tudo está perdido e que estou sozinha. Imaginação fértil a minha. E foi ai que minha raiva passou e a dor amenizou. A saudade do passado voltou a ser lembranças. Vi que já estou bem grandinha pra voltar a brincar de bonecas e fui brincar com meus livros. Foi interessante. Um dia, uma tarde, uma noite pensante. Mais aliviada meu coração se encheu de desejo, de viver, correr, abraçar as oportunidades, fazer o bem, sorrir para vida, pros desafios. E viver um grande amor. De repente inconscientemente falei: Obrigada Senhor. E me dei conta que pensei Nele sem forçar a mente. Foi de coração. Foi surpreendente. Estou até agora sem entender muito bem, mas deixo que meu coração o aceite, pouco a pouco, tempo ao tempo. Mas pude ver que não conversei com as paredes, alguém me ouviu, me acalmou. Será que foi?"

(Thailla Torres)

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